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domingo, 15 de março de 2009

A questão polémica da Educação Sexual na Escola


Há décadas que surgiu esta proposta. Já passámos por vários governos e outras tantas equipas no Ministério da Educação. E parece que ela não tem uma resolução fácil nem consensual.
As Associações de Pais têm tido uma atitude mais do que dúbia e a população anónima dá uma no cravo e outra na ferradura.
Parece óbvio que os jovens precisam de um acompanhamento especializado e competente nessa área, mas, por outro lado, existem até dentro das Escolas, pasme-se, as vozes discordantes que afirmam, enraizadas no preconceito, que "quanto mais se fala nas coisas, mais depressa eles as vão querer experimentar"!
E não contentes com isto, ainda vêm argumentar que não se sabe quem estará habilitado a "ensinar" tais matérias: os professores de Biologia?
Pois se se trata de questões fisiológicas do aparelho reprodutivo...
Mas, então e os de Filosofia/Psicologia, não serão para aqui chamados?
Onde ficam as questões dos sentimentos, afectos e emoções?

Bom, entendamo-nos: eu, como professora de Filosofia e Psicologia não preciso que exista uma disciplina curricular de Educação Sexual para debater e tentar esclarecer todas as questões relativas aos afectos, sentimentos e emoções, quer elas envolvam ou não a sexualidade dos alunos e alunas, desde que as considere pertinentes e oportunas.
Às vezes, esse tipo de temáticas até é abordado a propósito de outras questões, as quais depois evoluem, por um processo natural, para a relação amorosa e as suas implicações. Temas caros a todos os adolescentes.

Isto é: Educação Sexual podemos fazer todos um pouco, desde que não estejamos mergulhados no preconceito. Tanto nas aulas de Filosofia, Psicologia, Biologia, Educação Física ou Moral...!
O mais importante é estarmos despertos para os problemas reais e prementes dos nossos alunos e alunas e das suas necessidades urgentes de informação.
Contudo, e, dado que estou numa Escola onde todos os anos deparamos com jovens grávidas, a serem mães ou a abortar com 15 e 16 anos, torna-se urgente a implementação de um "espaço" curricular no qual seja dada uma informação exaustiva sobre planeamento familiar e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

E não me venham argumentar que "falar nas coisas é pior"!
Haverá coisa pior do que engravidar sem querer, de alguém que entretanto desaparece e se desreponsabiliza, ter de enfrentar uma IVG, por vezes sem conhecimento da família, ou ter de assumir os riscos de rejeição da sociedade e criar um filho sem condições para o fazer, quando, ainda por cima, quase não se teve tempo para brincar?

Não resisto a transcrever um artigo a propósito do papel que está a ser desempenhado pelo Movimento Pró-Vida, o qual considero que está a ter uma posição absolutamente lamentável e que em nada virá ajudar a resolver este cancro social que é a gravidez na adolescência.
É tão grave como o Vaticano ser contra o uso do preservativo. E a SIDA e a morte que continuem... desde que não nos toque na nossa porta, não é?



Movimento Portugal Pró-Vida contra educação sexual nas escolas

Católicos 'pró-vida' não querem aulas de educação sexual, obrigatórias, nas escolas portuguesas, disse o porta-voz do movimento Portugal Pró-Vida.
"A obrigatoriedade dos alunos frequentarem as aulas de educação sexual é anti-democrática e muito perigosa para a sociedade portuguesa", referiu Luís Botelho Ribeiro, presidente do movimento Portugal Pró-Vida (PPV).
A I Convenção Portugal Pró-Vida iniciou-se, esta manhã, em Guimarães, com o tema "Valorizando a vida, superamos a crise".
Contra o aborto, o movimento assume uma nova "luta" contra a existência de aulas de educação sexual nas escolas e contra a obrigatoriedade da sua frequência.
"Enquanto pais, o Estado está-nos a tirar o direito de decidir sobre a educação que queremos dar aos nossos filhos e isso é claramente anti-constitucional", salientou o presidente do PPV.
"As ideias e os ensinamentos que vão ser transmitidos aos estudantes vão fazer com que, daqui a poucos anos, tenhamos uma geração de portugueses para quem nada é proibido nem moral, nem eticamente", frisou Luís Botelho Ribeiro.
As conclusões da convenção, que termina esta tarde com uma missa, serão entregues à Conferência Episcopal Portuguesa.
"Nos manuais de educação sexual que já tivemos oportunidade de ver só se fala de sexo. Não há uma única referência ao amor, ao casamento e aos filhos", referiu a mesma fonte.
Detentor de um "projecto político" que tem a família como base do Estado e da sociedade, o movimento Portugal Pró-Vida é a mesma organização que, no dia 25 de cada mês, faz vigílias contra o aborto em frente a alguns hospitais e clínicas privadas.

Jornal de Notícias, 15 de Março de 2009

1 comentário:

  1. São sempre os mesmos, esses insuportáveis "movimentos pró-vida", segundo os quais ainda estaríamos a viver na idade média. Para esses retrógados imbecis só existe o pecado, a proibição e a ignorância. Pois se eles são contra a despenalização do aborto, porque raio seriam a favor da educação sexual? Venham mas é gravidezes indesejadas suportadas pela ignorância e pela curiosidade de experimentar no desconhecido. O resto que se lixe, desde que as criancinhas não saibam para que serve a pílula ou o preservativo. Raios os partam!

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