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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Polémicas e melindres, ou questões de justiça?


"Se no regime autoritário do professor António O. Salazar já era uma classe simpática, respeitada e dignificada – lembremo-nos nas aldeias a ‘importância’ do sr. Cura, do médico e do professor primário, com o 25 de Abril ainda se tornaram mais simpáticos, mais respeitados (e ladinos) ao alcançarem a proeza de ingressar na Carreira Única, igualando (nalguns casos ultrapassando) e colocando-se ao nível do designado professor do liceu de outrora, que, nestes tempos ensandecidos, desceu de ‘importância’ e é um Zé-ninguém. Efectivamente, hoje, um professor primário aufere, sem grande maçada, um vencimento igual a um professor do 2.º e 3.º ciclos e secundário. Ou seja, um professor que ensine s primeiras letras, mais a adição e a subtracção às criancinhas na escola primária – depois é vê-los transitar para o 2.º ciclo e aí os professores verificam que as irrequietas, engraçadinhas e inocentes criancinhas não sabem nada de nada – tem o mesmo vencimento de um professor com as turmas do 10.º, 11.º e 12.º anos, que leccione disciplinas como Matemática, Língua Portuguesa e Filosofia. Dir-me-ão que ‘a trabalho igual, salário igual’. Mas…será? Poder-se-ão equiparar os supostos conhecimentos, a agilidade e a destreza mental, a capacidade de intelecção, o ritmo de trabalho e o ‘background’ de uma criatura que ensina (e entretém) criancinhas, e uma outra que discorre sobre ‘A crítica da razão pura’ de Kant, a ‘Incomensurabilidade dos paradigmas’, de Thomas Kuhn, a ‘Factorização de polinómios com 3 termos do tipo Ax^2 + Bx + C, o ‘Existencialismo’ na ‘Aparição’ de Vergílio Ferreira ou aborda as características da poesia do ortónimo em Fernando Pessoa?

Por estas e por outras é que Platão, há muitos anos atrás, já questionava certas incongruências do sistema democrático ao afirmar que ‘a democracia é um regime que confere uma espécie de igualdade tanto para os iguais como para os desiguais’… Teria razão ou já era, ao tempo, um vil reaccionário? “

(...) E que melhor companhia podíamos nós desejar que a de Platão, e quem, porventura, comungue de igual desencanto por este estado de coisas: “A pior forma de desigualdade é tentar fazer de duas coisas diferentes duas iguais”.


In DE RERUM NATURA. Para reflectir e discutir.

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